11 de Novembro - Instalações da Ordem dos Engenheiros Região Norte
Equipa de projecto Investigação:
Daniel Oliveira Eng.º - Univ. Minho
Convidado Estrangeiro:
Rowland Keable - Inglaterra
Painel das MR :
Alice Tavares Arq.ª
Anibal Costa Eng.º
Humberto Varum Eng.º
João Miranda Guedes Eng.º
Mariana Correia Arq.ª
Miguel Rocha Arq.º
Síntese. Conclusões preliminares
A terceira sessão subordinada ao tema Estruturas contou com a presença de investigadores e projetistas nacionais, com vasta experiência na investigação/estudos e conceção de projeto na área da construção em terra.
A 3ª MR contou ainda com a presença de um convidado internacional, Rowland Keable, com elevada experiência na elaboração de códigos práticos para a construção de terra no Reino Unido, na Europa e em África; que tem ainda como objetivo a publicação da primeira norma europeia pela British Standards Institution para construção com terra.
Esta sessão foi a terceira de três sessões, sendo que as anteriores contaram com a presença de oradores projetistas, construtores e investigadores. Pretendeu-se responder sobre a metodologia e passos a desenvolver para a elaboração de uma Guia Nacional para a Construção com Terra.
A sessão foi aberta pelo Coordenador do Colégio de Engenharia Civil da Região Norte, Eng.º Bento Aires e pela Presidente da Associação Centro da Terra.
Como introdução à sessão, foram recordadas algumas das conclusões principais das duas sessões anteriores subordinadas ao tema Estruturas, com base nos testemunhos de construtores, projetistas e investigadores:
Construtores e Projetistas:
· É possível satisfazer os requisitos de segurança estrutural, incluindo os relativos à ação sísmica, através da introdução de materiais e técnicas de reforço complementares que conferem uma melhoria do comportamento global das estruturas em terra;
· É necessário estabelecer critérios prévios de avaliação e caracterização dos materiais a aplicar (terra);
· Não existem condicionantes a destacar nos processos de submissão e aprovação dos projetos de execução por parte das entidades licenciadoras.
Investigadores:
· Não se tem assistido em Portugal à reabilitação estrutural do património edificado existente como uma regra generalizada;
· Podem ser incluídos outros materiais com função estrutural e/ou a adoção de soluções dirigidas de melhoria do comportamento global das construções sem que isso signifique uma descaracterização importante da solução arquitetónica original;
· As soluções de inovação devem ser encaradas como solução possível para reduzir a vulnerabilidade destas construções;
· A vulnerabilidade sísmica destas construções deve ser contextualizada, tendo em conta a localização e o risco efetivamente envolvido;
· Importância do conhecimento prévio dos materiais e das soluções estruturais presentes em cada construção a reabilitar - processos prévios de diagnóstico e de caracterização antes de prescrever soluções em projeto de execução;
· A prioridade continua a ser o desenvolvimento de mecanismos legais que regulamentem e incentivem a reabilitação do edificado existente, num sentido lato, onde se incluem as de terra;
· Desenvolver contributos com carácter de “recomendações” para a reabilitação estrutural de construções com terra, tendo em conta a tradição e as especificidades nacionais.
Foram apresentados os oradores convidados, através um breve resumo curricular.
A primeira comunicação esteve a cargo do Professor Daniel Oliveira, focada na investigação recenet desenvolvida na Universidade do Minho na área do reforço de estruturas com terra e sua vulnerabilidade sísmica, apresentando soluções concretas e abordagens ao projecto de avaliação e reforço sísmico desse tipo de construções. Da discussão promovida em torno dessa comunicação destacam-se os seguintes pontos principais:
· Soluções com materiais de baixo custo são viáveis para o reforço de paredes portantes em terra;
· A modelação estrutural é omplexa e morosa; os resultados (danos esperados) são muito dependentes da natureza da terra e método de compactação considerados;
· Foi sublinhada a necessidade de contextualizar o risco sísmico em função da localização da construção e de caracterizar previamente os materiais (existentes e novos);
· Foi reforçada a importância da interacção entre universidades e projectistas no desenvolvimento da investigação nesta área.
Seguiu-se a comunicação de Rowland Keable, que incidiu sobre os passos desenvolvidos noutros países na elaboração de guias e recomendações sobre a construção com terra e em especial na sua componente estrutural. Rowland Keable referiu ainda que será divulgada em breve uma norma europeia pela British Standards Institution. Da discussão promovida em torno dessa comunicação destacam-se os seguintes pontos principais:
· As alterações legislativas são impulsionadas, em regra, por incentivos de iniciativa estatal ou de interesse comercial;
· Documentos organizados (com carácter de recomendações) são úteis para orientar a construção com terra - mesmo que não constituam uma obrigação legal, funcionarão como referência consensual entre os agentes (projectista e construtores), podendo vir a ser mais facilmente transportos para a legislação nacional no futuro;
· Existem normas no estrangeiro que podem ser adaptadas para serem usadas como referência em Portugal;
· É essencial o trabalho cooperativo e regular entre os agentes - investigadores, projectistas, construtores, outros;
· É importante dar a conhecer a construção com terra “earth construction need to appear on the page, need to be visible”; grandes empreendimentos chamam à atenção dos centros de investigação e centros de normalização , “obrigando” a um processo de normalização para as técnicas construtivas com terra.
Os moderadores introduziram o debate em formato de mesa redonda, recordando o objectivo central da sessão - definir passos, a curto prazo, para a elaboração de Recomendações (guia) para a construção com terra em Portugal. Destacam-se os seguintes aspectos apontados pelos oradores e público presente:
- Devem ser criadas comissões de trabalho, por forma a sistematizar todo o conhecimento já existente na área da construção com terra, nesta compilação deverão existir todos os trabalhos já realizados, nomeadamente: normas, especificações, guias, artigos, trabalhos de doutoramento, trabalhos de mestrado, livros, entre outros documentos; com esta base de dados será mais fácil encontrar algumas respostas para soluções de projeto e de construção e ainda definir que estudos ainda faltam realizar.
- Foi solicitado às universidades que contribuam na síntese e listagem de conteúdos técnicos e científicos nesta área - através da disponibilização das listas dos conteúdos produzidos nos seus centros; os representantes das universidades irão contribuir para esse levantamento com a coordenação da Associação Centro da Terra.
- Foi sugerido um plano de reuniões periódicas de acompanhamento deste processo de recolha e levantamento, onde deverão estar presentes os representantes das Universidades e da CdT.
- Foi sugerido disseminar os resultados desse levantamento, na forma de uma edição/publicação conjunta entre as universidade e a CdT.
- Aos projectistas, foi solicitado que analisassem esse acervo documental e que apresentassem as lacunas de informação que identificam na elaboração dos seus projectos de estrutura;
- Foi referida a importância de criar (ou reforçar) planos curriculares de formação ao nível superior na área do património, no contexto das licenciaturas e mestrados nacionais. É necessário incentivar a procura desse tipo de formação junto dos potenciais alunos;
- Há lacunas muito significativas na habilitação das empresas executantes, na generalidade; em Portugal existem poucas empresas com os recursos necessários;
- É importante que as Universidades reforcem as parcerias com a indústria (fabricantes e aplicadores), intensificando a interação com quem trabalha no terreno, focando a investigação nas necessidades desses agentes;
- Foi referida a importância de clarificar o âmbito das Recomendações - sobretudo em termos dos materiais e técnicas em causa - de modo a prevenir lacunas de conteúdo;
- As Recomendações devem ser muito claras e orientadas para o “Fazer”, para serem facilmente interpretadas por projectistas e por construtores. Por outro lado, devem ser definidos mecanismos para verificar a aplicação das Recomendações, no sentido duma melhoria contínua do documento;
- Foi sublinhada a importância de desenvolver trabalho junto das comunidades que usam construções com terra e onde seja necessária sua reabilitação, como via para se ganhar escala e aprendizagem neste tipo de tecnologia construtiva, envolvendo também os utilizadores na promoção desse tipo de construção;
· Foi sublinhada a importância de desenvolver trabalho junto das comunidades que usam construções com terra e onde seja necessária sua reabilitação, como via para se ganhar escala e aprendizagem neste tipo de tecnologia construtiva, envolvendo também os utilizadores na promoção desse tipo de construção;
- Outra via para promover a construção ou a reabilitação com terra poderá ser a redução da carga fiscal nesse tipo de intervenção (redução do encargo fiscal a suportar pelo proprietário/promotor);
- Foi sublinhado que as Universidades devem ser um dos principais meios de divulgação de conhecimento nesta área - com base nos trabalhos de investigação que desenvolvem, devem divulgar dados (valores) de referência (por exemplo na forma de um manual) para que os projectistas possam utilizar de forma criteriosa nos seus projectos (exemplo de iniciativa em curso na Universidade de Aveiro).