18 de Novembro de 2017, Biblioteca Municipal de Aveiro
Foram expostos os trabalhos de investigação dos intervenientes e suas conclusões relativas ao tema e objectivo destes debates. As questões levantadas na 1ª Mesa redonda foram
apresentadas para que os intervenientes desta mesa, a partir da sua experiência, apresentassem as suas visões e possíveis propostas de solução.
Oradores:
Alice Tavares, Univ. Aveiro - Daniel Oliveira, Univ. Minho - Humberto Varum, FEUP - Paulo Lourenço, Univ. Minho - Carlos Chastre, Univ. Nova Lisboa - Rui Silva, Univ. Minho - Anibal Costa, Univ. Aveiro
Moderadores:
Idália Gomes - Luís Mateus
Síntese. Conclusões preliminares
A segunda sessão subordinada ao tema Estruturas contou com a presença de investigadores nacionais com vasta experiência em estudos na área da construção em terra. Esta sessão foi realizada na sequência de uma sessão inicial que contou com a presença de oradores projectistas e construtores.
Nas duas primeiras mesas redondas pretendeu-se clarificar a percepção que cada um destes grupos de especialistas tem relativamente ao enquadramento legal e normativo actual sobre construção em terra em Portugal, identificando eventuais necessidades, em particular sobre a sua resposta estrutural.
A sessão permitiu igualmente a participação activa do público presente.
O debate centrou-se na resposta às seguintes questões principais:
1. “A cultura de intervenção em Portugal sobre as construções existentes rege-se por uma lógica preferencial de conservação/restauro, mesmo sobre a componente estrutural, em detrimento da lógica preferencial de substituição/reconstrução que é adoptada noutras tradições”. É assim?
2. Os suportes em terra mais comuns apresentam fragilidades significativas em termos mecânicos. Muitas vezes é sugerida a aplicação de outros materiais estruturais para substituição ou reforço. Quais os limites do ponto de vista conceptual, para a aplicação de outros materiais e técnicas de reforço?
3. Qual a aplicabilidade da legislação sobre segurança estrutural existente, nacional ou europeia, a este tipo de construções? Utilidade dos Eurocódigos. Seriam desejáveis disposições regulamentares de excepção para este tipo de construções, por exemplo no que respeita à satisfação da sismoresistência? Baseado em que argumentos?
4. Estudos académicos recentes apostam no desenvolvimento de novos materiais e desenhos de elementos estruturais em terra, compatibilizando a função estrutural com outras necessidades da construção (por exemplo instalações técnicas) e com o conceito de construção modular. O futuro da investigação em Portugal ficará dominado pelas soluções estruturais de pré-fabricação/modulares? Quais as lacunas actuais que limitam a entrada no mercado de novos materiais e técnicas validados nas Universidades?
5. “Uma prioridade é a normalização de materiais em terra usados nas várias tipologias construtivas (taipa, adobe, btc), como base necessária ao desenvolvimento de regulamentação específica sobre requisitos estruturais”.
6. De que forma os centros de investigação podem contribuir ativamente para a melhoria do enquadramento legal e normativo das estruturas em terra?
7. Propostas de alteração legislativa específica. Estratégias, acções futuras.
A sessão iniciou-se com a apresentação sumária do currículo dos oradores, seguida de uma breve apresentação, em formato power point, por cada um deles.
Estas comunicações tiveram o objectivo de sumarizar o trabalho desenvolvido ou em curso, nos vários centros de investigação representados. As apresentações centraram-se sobretudo no levantamento das necessidades estruturais de construções em terra, na caracterização de materiais e no desenvolvimento de novos produtos – materiais e técnicas – aplicáveis em processo de conservação e de reforço de estruturas de terra existentes.
Na perspectiva dos investigadores e do público presente, em Portugal não se tem assitido à reabilitação estrutural do património edificado existente como uma regra generalizada. Existe uma preocupação geral em adoptar medidas simples de conservação das construções - por exemplo sobre os revestimentos de parede - em especial em algumas regiões do país onde essas tarefas de manutenção sazonal são, desde longa data, praticadas. No entanto, quando se trata de encarar uma intervenção profunda no que concerne à reabilitação estrutural de elementos de terra, tem-se assistido vulgarmente ao desmonte desses elementos afectados, seguido da sua reconstrução com recurso a soluções construtivas e materiais mais correntes. Apesar disso, no entendimento dos investigadores e do público presente, começam-se a fazer notar alterações na percepção de alguns decisores (donos de obra), que os tem levado a aceitar estratégias alternativas de preservação das estruturas de terra existentes, embora este não seja ainda um cenário suficientemente generalizado, como se esperaria.
Para os investigadores, o material terra representa desafios acrescidos face à sua fragilidade, sobretudo a nível mecânico. Para a reabilitação estrutural dessas construções podem ser incluídas outros materiais com função estrutural e/ou a adopção de soluções dirigidas de melhoria do comportamento global das construções sem que isso signifique uma descaracterização importante da solução arquitectónica original.
Conforme se pôde atestar pelas apresentações feitas pelos convidados, a investigação nos seus centros de investigação tem progredido maioritariamente no sentido de avaliar materiais e técnicas especificamente vocacionadas para essas intervenções dirigidas. Exemplo dessas investigações é o desenvolvimento de caldas de consolidação apropriadas para a construção com terra, novas composições para fabrico de BTCs ou soluções de reforço exterior de construções (por exemplo com recurso a malhas de confinamento, incorporadas nos sistemas de revestimento exterior de paredes ou em abóbadas/arcos). A adopção destas soluções de inovação devem ser encaradas como solução possível para reduzir a vulnerabilidade destas construções face às acções mecânicas. Foi ainda sublinhado que a preocupação sobre a vulnerabilidade sísmica destas construções deve ser devidamente contextualizada, tendo em conta a localização e, consequentemente, o risco efectivamente envolvido.
Um aspecto sublinhado pela generalidade dos investigadores é a importância do conhecimento prévio dos materiais e das soluções estruturais presentes em cada construção a reabilitar. Assim, deve ser dada prioridade aos processos prévios de diagnóstico e de caracterização antes de prescrever soluções em projecto de execução, tendo em conta a diversidade de características que os materiais em terra podem assumir. A qualidade do projecto (ou a falta dela) será determinante para a qualidade e longevidade da intervenção de reabilitação.
Os investigadores sublinharam que existem muitas referências normativas disponíveis a nível mundial; porém, elas divergem entre si em alguns aspectos, em resultado natural das características das matérias primas aí utilizadas, das tipologias de construções aí existentes, ou dos níveis de exigência considerados satisfatórios em cada região.
No entendimento dos investigadores, os engenheiros nacionais possuem conhecimentos de formação base que permitem desenvolver uma avaliação criteriosa das estruturas, a definição dos pressupostos de cálculo e o adequado dimensionamento das soluções de engenharia que salvaguardem a resposta estrutural das construções em terra, sejam elas novas ou a reabilitar. Neste contexto, os investigadores referiram ainda que a prioridade continua a ser o desenvolvimento de mecanismos legais que regulamentem e incentivem a reabilitação do edificado existente, num sentido lato, onde se incluem as construções com terra.
Os investigadores referiram ainda a importância de desenvolver contributos com carácter de “recomendações” para a reabilitação estrutural de construções com terra, tendo em conta a tradição e as especifidades nacionais, que incorporem os aspectos que devem ser contemplados e avaliados nas fases de projecto e de obra.